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Entrevista | Maurício Locks fala sobre eleições 2024 em SC, bolsonarismo, lulismo e populismo

Por: Marcos Schettini
12/03/2024 10:57
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Divulgação

Maurício Locks é jornalista com passagens por redações de Santa Catarina e Rio de Janeiro, trabalhou na Câmara dos Deputados e fez parte da campanha que levou o governador Jorginho Mello ao Senado numa eleição considerada improvável. Diferente das eleições de 2022 em que Jorginho contava com o fenômeno de votos do 22, em 2018, o então PR, partido do então deputado federal, contava com o apoio do MDB que tinha como candidato a governador Mauro Mariani. Jorginho sempre foi muito atuante em Brasília, mas tinha dificuldade em suas redes e na comunicação. No começo das eleições, Jorginho aparecia em algumas pesquisas em sexto lugar, mas terminou abraçando e abraçado pelo segundo voto do bolsonarismo e se elegeu.

Depois do Senado, Maurício Locks assumiu o desafio de trabalhar para o governador Carlos Moisés, numa decisão questionada por seus amigos de abandonar o tapete azul do Senado para trabalhar num governo que tinha uma CPI dos Respiradores aberta, uma pequena base de apoio na Assembleia Legislativa de Santa Catarina e fora do PSL, partido que o elegeu. Com o número de seguidores reduzido à metade, Maurício auxiliou num trabalho que não foi recomeçar do zero, mas do -100.

Passada a operação da PF na Casa da Agronômica, dois processos de impeachments e o trabalho ao lado de Carlos Eduardo “Mamute” e Eron Giordani, Maurício Locks viu Carlos Moisés se tornar uma alternativa real em 2022, o que era descartado em 2020 quando chegou ao Centro Administrativo. Carlos Moisés não ter conseguido se reeleger, para alguns é um fato negativo, mas a chegada na frente de Gean Loureiro e Esperidião Amin foram considerados uma sobrevida na política para quem chegou a ser considerado fora do jogo em 2020.

Após o fim do Governo Moisés e o começo do Governo Jorginho Mello, Maurício Locks é convidado por Carlos Eduardo “Mamute”, Eron Giordani e o deputado estadual Julio Garcia, para trabalhar com o prefeito de São José, Orvino Coelho de Ávila. Em 8 meses, Orvino viu concorrentes como Dário Berger e Bruno Souza retrocederem de suas candidaturas em São José e liderar as pesquisas internas do partido. É com este histórico recente na política catarinense que Locks concedeu entrevista exclusiva ao jornalista Marcos Schettini, falando sobre o cenário aberto para outubro em SC diante do populismo de Bolsonaro e Lula. Confira:


Marcos Schettini: Bolsonaro e Lula continuam muito presentes no centro do debate. Eles vão influenciar nas eleições municipais?

Maurício Locks: Existe uma tendência muito forte do PL e PT crescerem muito nessas eleições em todo Brasil. Em Santa Catarina, o PL cresce de forma orgânica, mas, como em São Paulo, do governador é Tarcísio Freitas (Republicanos), o PSD aqui consegue crescer de forma estruturada, conduzido pelo meu amigo e presidente estadual, Eron Giordani. Mas o bolsonarismo consegue pautar o país com sua estridência e trazendo consigo os seus maiores opositores que é o petismo. Esse monopólio da pauta acaba excluindo os outros partidos e a gente vê essa dificuldade de ocupar espaços por outras legendas de direita e esquerda.


Schettini: O populismo vai esmagar o centro?

Locks: Eu discordo de quem considera o populismo algo negativo. Agir conforme o interesse popular é o natural do animal político. Ruim é quando os órgãos de controle agem conforme o interesse popular. Eles estão ali para frear. O populismo é o natural da política que, em tempos da hiperconectividade, faz com que o político avalie e manobre seus atos diariamente. Hoje, na política, não há mais imposição. Um grupo de amigos que fez uma eleição municipal na Serra me contou uma história. No comício o prefeito, candidato à reeleição, anunciou que já tinha asfaltado 200 ruas, acontece que pouco importa para população se asfaltou 200, mas não asfaltou a dele. Os aplausos não vieram, mas quando se posicionou contra o Fundo Eleitoral a massa veio ao delírio. Eu faço uma análise dessa curta história, hoje a população busca mais posicionamento, e isso o bolsonarismo é rico, do que ações e obras. Em resumo: eu entendo e respeito o populismo.


Schettini: Como vê as eleições de 2026 com esse cenário polarizado?

Locks: A eleição municipal há tempos deixou de ser parâmetro para estadual. Em 2018, os candidatos apoiados por Gean não tiveram sucesso nas urnas. 2020, Gean Loureiro saiu vitorioso em primeiro turno e o Jorginho Mello tinha avançado pouco com o então PR em Santa Catarina. 2022, o Jorginho foi para o segundo turno com o PT e saiu fortalecido das urnas. A polarização e o monopólio da pauta provocam uma exclusão dos outros partidos. De um jeito ou de outro, os partidos têm que se inserir nesse contexto e brigar por espaço, caso contrário serão esquecidos nas urnas. Em Santa Catarina, além do Jorginho, vejo o prefeito de Chapecó, João Rodrigues, com muita força, o prefeito de Florianópolis, Topázio Neto, e o prefeito de Joinville, Adriano Silva.

Schettini: Como avalia o Governo Jorginho Mello?

Locks: O governador Jorginho é muito trabalhador, talvez essa seja a grande marca dele. Ele ainda tem dificuldade de tocar o governo e nisso o Filipe Mello ajudaria muito a destravar. O Centro Administrativo, o serviço público em geral, possui entraves, isso ainda falta acontecer. Jorginho gosta de política e é exigente, acaba deixando alguns membros do governo inseguros. O governador Moisés também passou por isso e o que trouxe essa dinâmica e o senso de urgência veio da política, quando o Governo se abre para a chegada do Eron Giordani e Carlos Eduardo “Mamute”. A necessidade de entrega e os prazos foram encurtados. O Jorginho tem o Bruno Mello que o auxilia muito na saúde, o Filipe que carrega na veia a política com leitura muito rápida de cenário e tem na Carmen Zanotto o braço mais humano. O Cleverson Siewert trouxe para o Jorginho um detalhamento do Estado, mas ainda falta um Filipe Mello para Casa Civil, como o Jorginho falaria, um camisa 10, já que a centralização de poder e política no governador retardam a capacidade natural de ação.


Schettini: Você se arrepende de ter pedido demissão do gabinete do Jorginho Mello em Brasília para trabalhar com o governador Carlos Moisés em SC?

Locks: Não, era meu sonho trabalhar com o governador. Na época, eu conversei com o Jorginho, em Brasília, e com o Bruno Mello, em Florianópolis, e eles entenderam a minha decisão. Eu vivi de perto a CPI, dois processos de impeachment, e a eleição majoritária. Foram experiências únicas e me moldaram no profissional que eu sou hoje.


Schettini: Hoje como é trabalhar com o deputado Julio Garcia, Eron Giordani, PSD e o prefeito Orvino?

Locks: Eu gosto muito de história e sempre acompanhei a trajetória dos políticos de Santa Catarina. Na minha opinião, o Julio é um dos maiores da história. Quando a gente viaja durante o Governo Estadual quase todo ato é uma aula. O discurso do Julio, que é sempre muito direto, assertivo, mas rico em detalhes. O deputado Marcos Vieira também. Hoje estou mais perto do Julio através do Eron, que é mais jovem, mas tem uma visão do Estado como um todo, como poucos em Santa Catarina. O PSD é um grupo muito unido, o prefeito Orvino carrega uma vivência na gestão da cidade de São José. Eu me considero um sujeito de sorte, porque eu trabalho com o que eu gosto e com quem eu admiro.


Schettini: Eleições em São José, o que esperar?

Locks: Hoje credencio o prefeito Orvino como favorito, a eleição passa pela experiência dele. São José é uma cidade em que os bairros são cidades e por isso as lideranças locais, os vereadores, são importantes nesse processo. A comunicação é importante, a gente, uma equipe que eu consegui trazer, deu uma nova cara, nova dinâmica e a gente tá muito feliz com os resultados da comunicação. Mas eleição é outra coisa, é um recorte de tempo no ano e se vence na rua. Orvino tem um colegiado qualificado como a policial Andrea Grando na Segurança, a Saúde com a Sinara Simioni, que também é presidente do Consems de Santa Catarina, e a Procuradoria que é conduzida pelo Leonardo Reis de Oliveira.


Schettini: Além de São José, deve fazer outras eleições?

Locks: Eu tenho um convite para fora do Estado, mas devo ficar aqui para ajudar na eleição de São José e Florianópolis e dar suporte para o PSD.


Schettini: A deputada federal Júlia Zanatta conta que você foi uma das principais pessoas que auxiliaram na entrada dela na política. Como isso ocorreu?

Locks: Na verdade, quem me ajudou primeiro foi a Júlia. O Jorginho tinha grandes marcas em Brasília, mas isso não eram suficientes no nosso projeto de torná-lo governador e eu vi na Júlia a proximidade do bolsonarismo que seria o movimento para catapultar o Jorginho. Na época, o Bolsonaro tentava criar um partido, a Júlia veio antes e isso nos aproximou muito do Eduardo Bolsonaro. Isso foi fundamental para o projeto do Jorginho. Na sequência, o Jorginho estava em dúvida entre dois candidatos para Criciúma. Eu defendi o nome da Júlia e o resultado tá aí hoje. Ela é deputada federal.

Schettini: E a eleição do Topázio Neto em Florianópolis?

Locks: Eu tento enxergar de fora, mas tenho vivido de perto e, por sorte, porque o Topázio é um amigo querido que vai se diferenciando por ser muito trabalhador, muito dedicado, mas muito humilde e com a virtude de saber ouvir. Tem no colegiado o Carlos Eduardo “Mamute”, que é meu irmão e sou suspeito para falar, mas tem uma capacidade de trabalho única. Uma articulação que funciona para base da melhor comunicação do Estado, que é conduzida por outro amigo querido, o Bruno Oliveira. Com esse time, o Topázio se destaca pelo que ele é, um manezinho, como a gente chama aqui na ilha, dedicado. Aliás, o Topázio faz parte da melhor escola política do Estado, que é o PSD. Vejo no Topázio o potencial para ser a representação de Santa Catarina nacionalmente, depois de Jorge Bornahusen, Esperidião Amin, Luiz Henrique da Silveira. Santa Catarina ainda carece de uma liderança.


Schettini: Qual o próximo passo, projeto após esse ano de eleição municipal, no próximo ano?

Locks: Estar ao lado dos meus amigos.


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